quinta-feira, 30 de abril de 2009

Pag 4 Pico do Machadão em Irauçuba no Estado do Ceará


CONQUISTA DO PICO DO MACHADÃO - Irauçuba Ceará Por: Pepê de Oliveira

Irauçuba-CE, a cidade mais seca do Brasil

Partimos rumo a Irauçuba. Localizada a 155km de Fortaleza. Ao chegarmos a cidade, que é considerada o lugar de menor índice pluviométrico no estado fomos surpreendidos por um verdadeiro dilúvio. Iriamos escalar o pico do Machadão no mês de Março, época em que chove bastante no Ceará.



1ª INVESTIDA



O primeiro dia foi só de observação.



Devido a aproximação da aresta ser muito desgastante, optamos por outra linha vista pelo Kido na época em que ele veio abrir a trilha de acesso. Achei a idéia bem mais interessante do que a própria aresta. A outra linha estava repleta de fendas e fissuras que iam de encontro ao topo.



Acordamos cedo e começamos a carregar parte dos equipamentos encosta acima. Alguns trechos da trilha estavam muito escorregadios devido a chuva que caiu no dia anterior. Chegamos a base da linha e comecei a escalar.



Devido a chuva, as fissuras iniciais estavam escorrendo um filete d´agua. Instalei uma chapa em um trecho intermediário e entrei novamente em outra fissura. O tempo estava meio instável, a chuva iria chegar à tarde.



Continuei escalando. Entrei em uma fissura em transversal que me deu muito trabalho.Perdi bastante tempo tentando passar este trecho que não tinha mais que 7 metros. Coloquei umas dez peças moveis para melhorar em caso de uma eventual queda. Quando de repente senti como se fosse um terremoto.



Na verdade estava despencando. Dois nuts que havia colocado desprenderam-se. A queda foi de uns dez metros. Passado o susto e com o ombro doendo bastante, voltei ao ponto em que tinha caído. Escalei mais alguns metros e a pré-dita chuva começou a cair com toda força.Deixamos a corda instalada e começamos a descer a encosta.



As cachoeiras que se formaram ao longo da descida me meteram mais medo do que a própria queda que havia levado.



Ao chegarmos na casa em que o morador do vilarejo nos cedeu para nos servir de alojamento, conversamos e decidimos prudentemente adiarmos a escalada para outra data. Resgatamos o material deixado na via e retornamos pra Fortaleza ansiosos por voltar novamente.



INVESTIDA

Voltamos em setembro agora com o reforço do escalador mineiro Gustavo Piancastelli. Na terça feira do dia 13,saimos eu, Kido Aranha Gustavo Piancastelli e Fernando Leal rumo a Iraucuba.






O pico do Machadão fica na vila de São José, próximo a Irauçuba. As primeiras vias abertas neste local foram feitas pelo escalador carioca André Ilha e sua esposa Kate Benedict. Não sabia ao certo quais foram os picos que eles haviam escalado. Achávamos que eles não tinham escalado o Pico do Machadão, pois pelas informações que tínhamos suas vias eram bem menores em relação a altura do deste pico em todas as suas faces.




1º Dia

Chegamos na vila de São José no final da tarde e fomos fazer um reconhecimento do pico. Pela manhã colocamos todo o material na pick up e fomos rumo a base do Machadão. Enquanto o Kido e o Fernando montavam o acampamento, eu e o Gustavo fomos escalar a via. Por nossa sorte nesta época do ano toda a linha da via encontrava-se na sombra. Gustavo começou a guiar e liberou com maestria um trecho que eu havia feito anteriormente em artificial.





Gustavo livrando o trecho conquistado em artificial



No primeiro dia já havíamos escalado mais de 80 metros. Logo adiante havia uma extensa chaminé. O Kido e Fernando entraram na via com o objetivo de entrar e terminar a chaminé. Mas como na escalada as coisas as vezes não funcionam como nós esperamos, os dois pegaram uma enfiada bem mais difícil do que eles imaginaram.




Algumas fendas bem sujas, com um enorme risco de queda. Escalaram mais 20 metros e completaram duas enfiadas instalando mais uma parada de correntes. Devido a algumas incompatibilidades de escalada entre eu e o Gustavo resolvemos trocar as duplas e o Fernando optou por escalar dois dias seguidos, um negócio muito cansativo. Resolvemos por não montar os porta ledges. Decidimos por deixar as cordas fixas na via. Novamente o Gustavo mandou quase tudo em livre.Escalou toda a chaminé que era bem complicada.Foi instalada uma só chapa nesta enfiada. Fernando jumareou até onde ele estava, e aí montaram a terceira enfiada.



Olhando pelo binóculo notei que havia uma outra fenda bem acima deles. O Fernando começou a guia-la e não sei porque desceu depois de alguns poucos metros. Quando eu e o Kido pensávamos que eles iam começar a descer, o Gustavo começou a escalar de novo. A terceira enfiada havia sido bem desgastante, mas mesmo assim, mostrando uma enorme resistência física, ele emendou a quarta enfiada instalando duas chapas e outra parada de correntes. Havíamos combinado na noite anterior que eu e o Kido levaríamos o restantes das cordas pedra acima. Um trabalho muito duro pois tínhamos 200 metros de jumareada.




Chegamos a enfiada do dia anterior bem cansados. Devido ao cansaço e a uma unha encravada que me perturbava a dias, nem retruquei quando o Kido se lançou na guiada.




Mandou todos os lances em livre usando muito equipamento móvel. Novamente tive que levar todo o material 50 metros acima.O peso era grande , pois tinha o martelete que havia ficado na curva do diedro onde ele havia instalado uma chapa, as cordas e todo o equipo deixado na enfiada.



Finalmente chego até o Kido. Ainda esbocei uma guiada mas devido ao cansaço e o adiantamento da hora resolvemos descer. Tínhamos alcançado o grande diedro então as expectativas de fazermos o cume no outro dia eram muito grande.



O Fernando e o Gustavo começaram a jumarear bem cedo. O Gustavo fez tudo bem rápido e chegou num corredor que tinha muitos cipós. Depois se lançou na enfiada final. Lá pelas 11h da manhã falou pelo rádio que nós poderíamos começar a subir que ele estava no cume.







Foi o que fizemos e às 15h do dia 19/09/05 estávamos no cume do pico do Machadão. Comemorações a parte, começamos a logística da descida.



O risco da corda enganchar em uma das enfiadas era eminente devido as curvas que existem na via. Na puxada das cordas da quarta enfiada uma delas resolveu não ceder. Depois de algumas puxadas em vão, resolvi jumarear na corda para tentar resolver o problema.



Com uma guiada dada pelo Fernando jumariei até o final de um teto e constatei mais acima que a corda já não possuia capa e a alma já estava bem desgastada.

A capa cortou em atrito entre um mandacaru e a rocha que agiu como uma serra.



Passado o susto fui até a parada e resolvi o problema rapelando numa corda só e depois colocando uma fita de abandono em uma chapa mais abaixo para chegar até meus amigos. Rapelei o resto das enfiadas e fiquei esperando junto com o Gustavo, o Kido e o Fernando limparem o resto da via, trabalho que só terminou às 23h.



Ficha técnica

"Sombra e Água Fresca" (350mts + 240m costão, 7 enfiadas, primeira ascensão em 19 de Setembro de 2005 )



Classificação sugerida

A2+ VI sup 8a E4



Conquistadores

Gustavo Piancastelli, Pepê Oliveira, Kido Aranha, Fernando Leal,



Equipamentos

Camalots 1,2,3,4,5;

2 jogos de friends;

2 jogo de nuts, Excentrics e alguns tricans;

Muitas costuras e disposição!!!



Como Chegar



Pela BR 222 vindo de Fortaleza. Vila de São José dobrando a direita de uma grande torre de telefone. O pico fica no final do vale em frente a um açude. Os moradores que são o Sr. Sé que mora em uma caverna perto do pico e o Sr. Gerardo o "Cé" são de uma receptividade inquestionável.



Por sorte existe uma nascente na base com água o ano inteiro.



Pepê Oliveira, conquistador e autor do texto. Dispensa comentários



"AS DIFICULDADES SÃO COMO AS MONTANHAS, SÓ SE APLAINAM QUANDO AVANÇAMOS SOBRE ELAS"




Tags: Machadão Ceará Gustavo Piancastelli Escalada
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Um comentário:

  1. Opa. Boa noite. Você saberia me dizer se tem vias de escalada na regiao de Itapipoca?

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